A equação do cinema nacional

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O filme “Meu nome não é Johnny” é um caso para se pensar. Sucesso de público em 2008 (foi o primeiro filme nacional do ano a alcançar a marca de um milhão de espectadores), levanta questões sobre a produção nacional de filmes. Explico. Orçado em R$ 6 milhões de reais – um padrão alto para as produções nacionais - o roteiro do filme é baseado no livro homônimo de Guilherme Fiúza que conta a história real de João Guilherme Estrella, um rapaz da classe média carioca que “perde o controle” e que, além de consumir, começa a traficar drogas a ponto de se tornar um dos maiores traficantes dos anos 90, no Brasil. João Estrella foi preso e passou dois anos atrás das grades.
Como se pode notar, a trama não é das mais originais - talvez por ser uma realidade presente na agenda diária dos telejornais do país e seguir a mesma linha de produções anteriores (“Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”) e atuais (“O Gangster”, atualmente em cartaz). Porém o roteiro batido não é desculpa. Pode-se fazer filmes excelentes sobre qualquer coisa. Tudo depende da execução. E é exatamente nesse ponto que “Meu nome...” peca. É mal executado. Em certos momentos, os diálogos soam artificiais e abusam dos clichês. Frases como “não adianta dar o peixe, tem que ensinar a pescar” e motes batidos como “foi até o inferno, mas voltou” são freqüentes e utilizados, inclusive, no material promocional do filme.
Não chega a cair no pseudo-cinema característico da Globo Filmes, mas se sustenta num pé só. Os clichês cinematográficos também são usados ao extremo com planos e seqüências que remetem a obras melhores e anteriores para representar a fase do consumo de drogas (“Bicho de Sete Cabeças”), do encarceramento (“Quase dois Irmãos” e “Carandiru”) e da porra-louquice (”Cazuza”) do protagonista. O protagonista, aliás, é que carrega o filme nas costas. Selton Mello, sempre excelente, parece não ter conseguido repetir o mesmo desempenho de papéis anteriores, mas mesmo assim proporciona as melhores cenas do filme. A discussão que “Meu nome...” levanta não é a do consumo/tráfico de drogas como pode parecer. Esta discussão, aliás, nem é levada em conta pelo diretor Mauro Lima. Ele deixa evidente que não é esse o objetivo do filme.
O grande ponto de interrogação aqui é: “qual a importância de um filme como este na produção cinematográfica nacional?”. Alguns responderão que ajuda a popularizar o cinema num país que ainda não possui uma indústria de filmes sólida. Outros dirão que é importante para o brasileiro se ver e se reconhecer na tela. Tudo bem, mas qual é o valor do filme enquanto “obra artística”? É difícil compreender, uma vez que filmes como “Santiago” de João Moreira Salles, por exemplo, tenham apenas duas cópias sendo exibidas para um país de quase 180 milhões de pessoas enquanto “Meu nome...” está em praticamente todo o país com um investimento de R$ 6 milhões de reais para produção. Até quando os cineastas nacionais estarão sujeitos a boa vontade do governo e medidas de isenção de impostos para a realização de suas obras? Será que apostar na equação “divertimento fácil + público + bilheteria = consolidação da indústria” é o melhor caminho?“Meu nome não é Johnny” até vale para um momento de descontração. Mas para ser considerado cinema, ainda falta muito. O zoom no rosto de Selton Mello no momento da condenação de seu personagem só comprova isso.
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"Meu nome não é Johnny" (2008)

Dir.: Mauro Lima









1 comentários:

Cintia de Sá disse...

Assisti o filme essa semana e achei muito fraco, não me diz nada. Fica um gosto de 171. Bom entretenimento, na minha opinião, foi Estômago. Esse sim, deu um show!