Save the cheerleader. Save the world.

sábado, 16 de fevereiro de 2008



Essa frase, dita por Hiro Nakamura, já se tornou popular o suficiente para que seja reconhecida em qualquer lugar onde ela seja pronunciada. Ela se transformou no slogan da série que se transformou no hype do momento desde o ano passado: Heroes.

“De onde viemos?”, “Para onde vamos?”, “Será que chegamos ao limite da evolução humana?”, “Será que Darwin ainda está entre nós, gritando?”. Essas são algumas das perguntas que você pode vir a fazer a você mesmo enquanto assiste algum dos 23 episódios da primeira temporada, que terminou aqui no Brasil no final do ano passado.

A série conta a história de pessoas – inicialmente comuns – que se descobrem especiais, como por exemplo, um programador de computador que pode quebrar a barreira espaço/tempo; um enfermeiro que mimetiza habilidades dos outros; e até uma cheerleader gostosa que possui regeneração espontânea. E aos poucos eles descobrem que... precisam salvar o mundo, começando com evitar uma explosão em Nova York. Tá, tá na cara que a primeira impressão é a de que é uma cópia carbono de X-Men. Mas existem algumas diferenças básicas que diferenciam as duas obras.

Primeiro, a série não trata seus protagonistas como mutantes. Suas alterações genéticas são consideradas os primeiros indícios da evolução – mostrando que os mais evoluídos é que vão sobreviver [tio Darwin e a seleção natural de novo...]. Segundo, por mais que eles tenham poderes especiais, eles não se intitulam como um grupo sólido de “super–heróis”, como a Liga da Justiça [vixe...], e não usam aqueles collants que todo grupo de super-heróis tem.


O futuro segundo Isaac Mendez



A série sempre tem aquela pergunta que nunca é respondida, como em todas as séries de ficção científica, e também vários misteriozinhos menores que são desvendados a cada página virada. Um dos pontos altos da série são as pinturas de Isaac Mendez, que prevê o futuro. A cada pintura dele, três perguntas surgem na cabeça de quem assiste a série: “Como?”, “Por quê?” e “Quando?”, e talvez seja esse o fio condutor genial da série, aquilo que prende a atenção e garante o retorno do espectador no próximo episódio.

Pra falar a verdade essa série divide muitas opiniões. Há quem a ache sensacional e há também quem a ache pura bobagem ficcional. Mas o lance é que a série não se tornou hype a toa: ela tem à sua disposição todos os elementos para que isso acontecesse. O único problema, talvez, seja o excesso de personagens sem ter muito o que fazer para o bem da série. Alguns personagens estão interligados de tal maneira que em certos momentos você percebe o excesso e se pergunta: “pra que criaram esse personagem?”, pois eles não fazem a menor falta. Pra quem acompanha, vai aí um exemplo: pra quê serve a família Sanders? Acho bom haver um propósito para a sua existência na segunda temporada, senão...

Isso à parte, Tim Kring [o mestre controlador das marionetes] conduziu com maestria toda a história, revelando seus segredos no momento certo e cometeu um único [e broxante] erro: o último capítulo armou a barraca direitinho pro confronto mais esperado durante toda a primeira temporada da série. E quando rolou, a reação da galera foi uma só: POOOOTZ. E não foi no bom sentido.

A segunda temporada começou em janeiro no canal pago da Universal e é agora que a gente vai poder conferir se Heroes ainda consegue segurar a peteca lá no alto. Mas é bom lembrar que a [finada] greve dos roteiristas ferrou um pouco com os planos da galera. Só que é bom entender, também, que isso está longe de ser considerado desculpa.


Heroes (2006/2007)
Tim Kring












A equação do cinema nacional

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O filme “Meu nome não é Johnny” é um caso para se pensar. Sucesso de público em 2008 (foi o primeiro filme nacional do ano a alcançar a marca de um milhão de espectadores), levanta questões sobre a produção nacional de filmes. Explico. Orçado em R$ 6 milhões de reais – um padrão alto para as produções nacionais - o roteiro do filme é baseado no livro homônimo de Guilherme Fiúza que conta a história real de João Guilherme Estrella, um rapaz da classe média carioca que “perde o controle” e que, além de consumir, começa a traficar drogas a ponto de se tornar um dos maiores traficantes dos anos 90, no Brasil. João Estrella foi preso e passou dois anos atrás das grades.
Como se pode notar, a trama não é das mais originais - talvez por ser uma realidade presente na agenda diária dos telejornais do país e seguir a mesma linha de produções anteriores (“Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”) e atuais (“O Gangster”, atualmente em cartaz). Porém o roteiro batido não é desculpa. Pode-se fazer filmes excelentes sobre qualquer coisa. Tudo depende da execução. E é exatamente nesse ponto que “Meu nome...” peca. É mal executado. Em certos momentos, os diálogos soam artificiais e abusam dos clichês. Frases como “não adianta dar o peixe, tem que ensinar a pescar” e motes batidos como “foi até o inferno, mas voltou” são freqüentes e utilizados, inclusive, no material promocional do filme.
Não chega a cair no pseudo-cinema característico da Globo Filmes, mas se sustenta num pé só. Os clichês cinematográficos também são usados ao extremo com planos e seqüências que remetem a obras melhores e anteriores para representar a fase do consumo de drogas (“Bicho de Sete Cabeças”), do encarceramento (“Quase dois Irmãos” e “Carandiru”) e da porra-louquice (”Cazuza”) do protagonista. O protagonista, aliás, é que carrega o filme nas costas. Selton Mello, sempre excelente, parece não ter conseguido repetir o mesmo desempenho de papéis anteriores, mas mesmo assim proporciona as melhores cenas do filme. A discussão que “Meu nome...” levanta não é a do consumo/tráfico de drogas como pode parecer. Esta discussão, aliás, nem é levada em conta pelo diretor Mauro Lima. Ele deixa evidente que não é esse o objetivo do filme.
O grande ponto de interrogação aqui é: “qual a importância de um filme como este na produção cinematográfica nacional?”. Alguns responderão que ajuda a popularizar o cinema num país que ainda não possui uma indústria de filmes sólida. Outros dirão que é importante para o brasileiro se ver e se reconhecer na tela. Tudo bem, mas qual é o valor do filme enquanto “obra artística”? É difícil compreender, uma vez que filmes como “Santiago” de João Moreira Salles, por exemplo, tenham apenas duas cópias sendo exibidas para um país de quase 180 milhões de pessoas enquanto “Meu nome...” está em praticamente todo o país com um investimento de R$ 6 milhões de reais para produção. Até quando os cineastas nacionais estarão sujeitos a boa vontade do governo e medidas de isenção de impostos para a realização de suas obras? Será que apostar na equação “divertimento fácil + público + bilheteria = consolidação da indústria” é o melhor caminho?“Meu nome não é Johnny” até vale para um momento de descontração. Mas para ser considerado cinema, ainda falta muito. O zoom no rosto de Selton Mello no momento da condenação de seu personagem só comprova isso.
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"Meu nome não é Johnny" (2008)

Dir.: Mauro Lima









Os primórdios de Kurumada

domingo, 10 de fevereiro de 2008


Caso você tenha curtido tanto quanto eu o DVD da Saga de Hades – e ficou interessado em saber mais sobre a história de amizade entre Shion e Dohko e a guerra santa anterior a essa, aproveita pra caçar na banca o novo mangá Lost Canvas – que foi lançado no Japão em 2006 - e na minha modesta opinião, um dos melhores do ano passado.

Lost Canvas é um prequel [e o prequel virou moda desde que nosso amigo George Lucas resolveu contar a historinha de Anakin Skywalker, a.k.a Darth Vader] e traz como protagonistas Tenma - o primeiro cavaleiro de Pégaso -, Shion de Áries e Dohko de Libra, e conta a história do envolvimento deles e de outros cavaleiros na guerra santa ocorrida na Europa de 1743. Durante a antiga guerra, o espírito de Hades reencarnou em Aaron [ou Alone], o melhor amigo do cavaleiro de Pégaso.

O mangá ganhou esse nome em referência à capacidade artística do hospedeiro de Hades, que enquanto pinta um retrato de seu melhor amigo, sai em busca do “vermelho real”, que Aaron diz ser o “vermelho como o dos olhos de Tenma”. Acompanhando a história, aos poucos se percebe o real significado do tal vermelho real.

Dessa vez, Massami Kurumada [o pai das crianças] resolveu cuidar apenas do argumento do mangá, deixando a arte por conta da mangaka Shiori Teshirogi e é, de longe, um dos maiores destaques, que cria um traço levemente “desencanado” e extremamente estiloso – e ao mesmo tempo, completamente diferente do traço de Kurumada. E na minha modesta opinião, bem mais legal.

Aliás, Tenma e os antigos cavaleiros de ouro – à exceção, claro, de Shion e Dohko – lembram terrivelmente Seiya e os dourados atuais, que dizem ser um pedido de Kurumada, que acredita no conceito da reencarnação, o que é um tanto broxante, pois seria muito mais interessante conhecer cavaleiros diferentes do que uma réplica dos cavaleiros atuais – cópia inclusive de temperamento. Thumbs down nesse sentido.



Familiar? Isso não é mera coincidência


Já ouviu Afrodite gritar “Espinho Carmesim”? Ou Máscara da Morte gritar “Acubens”? Ou então Aldebaran gritar “Titan’s Nova”? Pois é, são golpes que ninguém nunca viu na vida, o que nos leva a crer que os antigos dourados tinham um leque muito maior de habilidades do que os dourados atuais. A conclusão é: eles eram muito mais fodões. Thumbs up, aqui!

Agora, tio Kurumada é um mestre. O roteiro dele é ao mesmo tempo igual e diferente a tudo o que é referente a CdZ. Diferente porque ele criou personagens e mundos muito mais complexos, elevando a história a um nível muito mais competente do que os 114 episódios originais do anime. E isso dá a base para os problemas que mais tarde vão ser resolvidos na pancadaria. É um page-turner natural.

Infelizmente ainda não dá pra saber pra onde vai a história, porque ela ainda está saindo lá no Japão – semanalmente na revista Shonen Champion [um capítulo por semana, atualmente no capítulo 71]. Já no Brasil, a Editora JBC está lançando os tankohon, um apanhado X de capítulos. O lançamento é bimestral e o futuro é promissor.


Saint Seiya - The Lost Canvas

Editora JBC