James Bond às avessas

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

“Constantine. John Constantine, asshole!”. Ele não é nenhum agente secreto, mas é assim que John Constantine – personagem de histórias em quadrinhos criado por Garth Ennis – se apresenta a seus inimigos.

Ele é inglês, louro e tem olhos azuis – e há quem diga que o personagem foi feito sob medida para ser interpretado pelo cantor Sting, mas nessa adaptação da HQ Hellblazer, Constantine [Constantine, Francis Lawrence, 2005] é americano, moreno e de olhos castanhos, interpretado por Keanu Reeves. Já sei, já sei... quem é fã xiita com certeza vai passar longe do filme... só que é exatamente a interpretação dele que dá ao personagem uma espécie de liberdade. Ele se sente à vontade em sua arrogância, manias e gestos.

Mas não é que deu certo? Constantine é um anti-herói e um egoísta completo que enxerga anjos e demônios em nosso plano espiritual, mas está condenado a morrer, por conta de um câncer fodido no pulmão, e a ir para o inferno, por ser considerado um suicida – um pecado mortal aos olhos do tio lá de cima. E o lance aqui é que ele precisa ajudar uma detetive a resolver o caso do suicídio de sua irmã gêmea – e se vê no meio de uma guerra entre Deus e o Diabo. Vixe...

Só que Constantine não está nem aí, afinal, isso não é novidade pra ele – o que realmente importa para ele é salvar a própria pele e deixar esse lance de salvar o mundo pra heróis de verdade como o James Bond [tsc...]. O problema é que está na hora do “Tio Lu” vir buscar a alma do rapaz. E ele está prestes a descobrir o que vai acontecer com ele caso ele tente pular fora dessa vez.



O inferno é aqui, amigo. UIA.


O filme mexe, em sua essência, com um tema bastante delicado: a questão da religião, espiritualidade... e todo mundo conhece aquele ditado “Mulher, futebol e religião não se discutem”, mas Francis Lawrence o faz com muita competência, mostrando um respeito total a muitas das religiões mostradas no filme – enchendo a tela de anjos e demônios, tão normais que poderiam ser qualquer um de nós e mostrando que o Inferno fica logo ali...

E ele também é eficiente o suficiente no quesito charme – afinal de contas, não é fácil adaptar uma história originalmente feita para acontecer em Londres, se passar em Los Angeles. Mas isso mal se nota pois o diretor faz uso inteligente do fator noite, [o filme é 90% filmado durante a noite] também apelando para todas aquelas mitologias sobrenaturais a respeito da própria.

Constantine é também – literalmente – um destruidor de dogmas e clichês. Aqui os anjinhos têm asas, mas isso não significa que eles são naturalmente bonzinhos, como diz a lenda. Sabia, por acaso, que o diabo também teve um filho? Mas Jesus nem dá as caras por aqui. E a Bíblia lá de baixo, conhece? Pois bem.

E o maior destaque do filme está – talvez – nas seqüências finais. Ela foge completamente de tudo aquilo que pode ser considerado ‘clichê’. Mas isso, quem vai descobrir é você depois de conferir o filme.

O filme é surpreendente em vários aspectos. Além disso, existem filmes que são adaptados de histórias em quadrinhos e livros e que são um desastre. Neste caso, mesmo o filme não sendo aquilo o que os fãs mais xiitas queriam, caso você nunca tenha lido uma página de Hellblazer pode se sentir compelido a começar a lê-la. Aconteceu comigo.


Constantine (2005)

Francis Lawrence











0 comentários: