De carona em carona

domingo, 27 de janeiro de 2008

Dez anos depois de escrito, On The Road, de Jack Kerouac, finalmente era lançado em 1957. Após sete anos de estrada, Jack só precisou de três semanas, um rolo de papel telex, Charlie Parker na vitrola e boas doses de benzedrina para botar tudo em palavras. O original foi recusado durante anos e Jack só conseguiu que a Viking Press lançasse On The Road com 120 páginas a menos e prejuízos à prosa espontânea de Kerouac. Mesmo assim, On The Road ganhou status de “bíblia da geração beat”.

A geração beat nasceu no final da década de 1950 e início da década de 1960 com os escritores Allen Ginsberg, Bill Burrounghs e Jack Kerouac. Os beats não queriam ficar parados, queriam viajar, queriam sexo, drogas e rock and roll, queriam fugir da vidinha quadrada norte-americana pós-guerra. Kerouac tirou a palavra “beat” de “beatitude”, mas logo percebeu que a palavra também tinha tudo a ver com “batida”, “porrada”, “pulsação” e até “exausto” (“beated”), ou seja, ela tinha tudo a ver com a geração inquieta em evidência. Assim, Jack foi considerado o pai da geração beat e On The Road o livro obrigatório para quem quer entender todos os movimentos culturais que vieram depois dele.

Sal Paradise, o alter-ego do autor, é um jovem universitário de Nova Jersey que, após a primeira viagem pelos Estados Unidos, reencontra Dean Moriarty, personagem baseado em Neal Cassidy, um delinqüente juvenil com quem Kerouac trocava cartas. A espontaneidade, a sonoridade e o estilo verborrágico beat do livro são inspirados justamente em Cassidy. Dean é um rebelde porra louca que procura Sal para que este o ensine a escrever, mas é na estrada que a relação de Sal e Dean se constrói. Dean é o tipo de cara que teria o mesmo efeito sobre qualquer tipo de pessoa que conhecesse, ele funciona como a “pilha” Sal. Sua inquietude atordoante e pura é contagiante. Quanto a Sal, ele é exatamente o que qualquer um de nós é: um cara com suas dualidades, preguiças e impulsos.

O que coloca o livro em evidência na década de 60 é o estilo que Kerouac inaugura. O ritmo frenético da narrativa e a linguagem das ruas e estradas chamam mais atenção do que as personagens. Hoje, não nos causa espanto esse tipo de literatura, mas é exatamente a obra de Kerouac que apresenta essa sonoridade literária ao mundo. A descrição fiel da paisagem suburbana parece complementar a personalidade das personagens que surgem ao longo da estrada. Essa descrição de um ambiente não explorado (nem mesmo por quem fazia parte dele) é outra novidade para a época. Não é à toa que Bob Dylan e Chrissie Hynde fugiram de casa ao ler o livro.

On The Road influencia até quem não o leu. Quem admira Jim Morrison ou lê Charles Bukowski está indiretamente ligado a Jack Kerouac e à geração beat. Certamente vai te dar uma vontade louca de botar uma mochila nas costas e ir pelo menos até a esquina depois de ler o livro.
Em 1997, Francis Coppola, detentor dos direitos da obra, anunciou a produção do filme baseado no livro, com Johnny Depp no papel principal e direção de Gus Van Sant. O filme não saiu. Em 2005, Coppola cedeu os direitos a Walter Salles e parece que dessa vez o filme sai.


On The Road
Editora Penguin USA









On The Road - Pé Na Estrada
Editora L&PM
Tradução de Eduardo Bueno

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